Discutir a armazenagem e estocagem de
grãos no Brasil e os programas federais de infraestrutura de armazenagem. Este
foi o objetivo da audiência pública realizada hoje (3/7) pela Comissão de
Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara
dos Deputados, que contou com a participação do Sistema OCB. A
iniciativa foi do deputado Bohn Gass (RS), integrante da Frente
Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop).
De acordo com o parlamentar, dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que em 2009 o
Brasil possuía 5,8 milhões de toneladas em armazéns inativos. Com isto, o
deficit nacional de armazenagem seria de 21,7 milhões de toneladas, caso se
objetivasse armazenar toda a produção do ano agrícola de 2008. “Todos os
estímulos do Governo Federal estão voltados ao plantio, com o lançamento de
diversos planos e linhas de crédito a esta fase produtiva, contudo devemos
refletir sobre a necessidade de fortalecimento do setor de estocagem e
armazenagem, para garantir melhor renda e a manutenção do desenvolvimento
agropecuário no Brasil”, afirmou Bohn Gass.
Para representantes do setor
produtivo, o Brasil está na beira de um apagão no que se refere à armazenagem,
já que a produção agrícola está crescendo de maneira muito mais rápida do que a
capacidade de estocagem do país. “Nos últimos 5 anos, a capacidade estática
instalada cresceu a uma media de 3,3 milhões de toneladas/ano, enquanto a safra
cresceu em torno de 3,8 milhões de toneladas/ano”, afirmou Tadeu Franco Vino,
coordenador do Grupo de Armazenagem da CSMIA/ABIMAQ.
Representando o Sistema OCB, Paulo
Carneiro, Chefe da Divisão Industrial da Cooperativa Comigo, ressaltou que o
cooperativismo responde por 21% da armazenagem no país. Para ele, “além do descompasso
de oferta e demanda entre produção e estocagem de grãos, a situação é agravada
pela inadequação dos sistemas de escoamento produtivo, já que os modais de
transporte e de armazenagem não estão integrados, e pela preponderância de
armazéns antigos e mal localizados geograficamente”.
Para Hardi Reinke, representante de
um arranjo produtivo local instalado no Rio Grande do Sul, seria necessário um
investimento de aproximadamente cinco bilhões de reais apenas para eliminar o
déficit de armazenagem hoje existente. Assim, se considerarmos o cenário de
crescimento da produção agrícola, o investimento necessário seria ainda maior.
Como solução ao cenário apresentado,
os representantes ressaltaram a importância do desenvolvimento de políticas
para a armazenagem que garantam maiores investimentos ao setor, com a
modernização das estruturas e a redução das taxas de juros nos financiamentos.
Além disso, defenderam o fortalecimento do fórum permanente para a
elaboração do Plano Nacional de Armazenagem e lembraram que a falta da cultura
de armazenagem no Brasil pode prejudicar até mesmo a qualidade do produto
agropecuário no país.
De acordo com o coordenador de
Serviços de Infraestrutura, Logística e Aviação Agrícola do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Carlos Alberto Nunes, o
Ministério já constituiu um Grupo de Trabalho para a discussão do Plano
Nacional de Armazenagem, que conta com a participação do Sistema OCB. Outra
iniciativa do MAPA é o Sistema Nacional de Certificação de Unidades Armazenadoras,
que visa melhorar tecnologicamente a estrutura e mão de obra dos armazéns, para
permitir a rastreabilidade, e que está em processo de implementação pela
Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).